domingo, 27 de novembro de 2011

As razões explicativas do Camelo e Agulha

Mateus 19:23-3023 Jesus, pois, disse a seus discípulos: "Em verdade vos digo que um rico entrará com dificuldade no reino dos céus.24 Novamente vos digo: mais fácil é um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico entrar no reino de Deus!25 Ouvindo isso, os discípulos muito se chocaram e perguntaram: "quem pode, então, salvar-se"?26 Olhando-os, porém, Jesus disse-lhes: "Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível".27 Respondendo, então, Pedro disse-lhe: "Eis que nós abandonamos tudo e te seguimos; que, pois, será para nós”?28 Mas Jesus disse-lhes: "Em verdade vos digo, que vós, que me seguistes na reencarnação, cada vez que o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, sentareis também vós sobre doze tronos, discriminando as doze tribos de Israel.29 E todo que tenha abandonado casas ou irmãos ou irmãs ou pai ou mãe ou esposa ou filhos ou campos por causa do meu nome, receberá o cêntuplo e participará da vida imanente.30 Muitos primeiros, porém, serão últimos, e últimos serão primeiros".Marcos 10:23-3123 Olhando em torno, disse Jesus a seus discípulos: "Como entrarão com dificuldade no reino dos céus os que têm riquezas"!24 Os discípulos porém se horrorizaram com as palavras dele. Mas respondendo Jesus disse-lhes: "Filhos, como é difícil entrar no reino de Deus!25 É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico entrar no reino de Deus".26 Eles se chocaram terrivelmente, dizendo uns aos: “E quem poderá salvar-se”?27 Olhando-os, Jesus disse: "Aos homens isso é impossível, mas não a Deus, pois tudo é possível a Deus".28 Começou Pedro a dizer-lhe: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”.29 Disse Jesus; "Em verdade vos digo, ninguém que tenha deixado casa ou irmãos ou irmãs ou mãe ou pai ou filhos ou terras, por minha causa e por causa da Boa-Nova,30 que não receba agora, nesta oportunidade, o cêntuplo de casas e irmãos e irmãs e mães e filhos e campos, com perseguições, e no eon vindouro a vida imanente.31 Muitos primeiros, porém, serão últimos, e últimos serão primeiros".Lucas18:24-3024 Vendo, então, Jesus que ele se tornara triste, disse: "Como dificilmente os que têm riquezas entrarão no reino de Deus!25 Pois é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico entrar no reino de Deus".26 Disseram, então, os ouvintes: "E quem pode salvar-se”?27 Ele disse: "O impossível entre os homens é possível para Deus".28 Disse Pedro, então: "Eis que deixamos nossas coisas e te seguimos”...29 Então ele disse-lhes: "Em verdade vos digo que ninguém há que abandone casa ou esposa ou irmãos ou país ou filhos por causa do reino de Deus,30 que não receba muito mais nesta oportunidade e a vida imanente no eon vindouro”. Muita tinta tem corrido acerca desta parabola, e tantos solicitos parafraseantes, as entendem de forma, personalizada, como se trata-se de algo com mistério, ou procuram projetar a sua ideia , mas apenas colidem numa situação, em situação alguma Deus condenaria ninguém à impossibilidade de evolução, de oportunidade de reparação, ou não existisse a reencarnação. Logo é preciso fazer jus e tentar percebr esta asservativa de enorme profundidade. Tem aparecido muitas sugestões sobre o significado reflexivo ‘o camelo e a agulha’. Alguns sugerem que pode ter havido uma losa ( erro textual), visto que uma simples vogal pode fazer a diferença entre ‘camelon e camilon’ sendo esta cordel, no grego. Esta hipótese está fora de questão porque seria possível um cordel passar pelo buraco duma agulha larga.
Outros sugerem que o buraco da agulha se refere a uma das duas portas estreitas da entrada na cidade de Jerusalém. Sinceramente essas portas são bastante largas para um camelo passar, porém tem o senão de serem portas demasiado pesadas para movimentar, então recortaram nelas uma mais pequena e estreita para o movimento normal das pessoas. ( recortaram nas próprias portas outra mais pequena) Esta porta estreita, pelo seu formato, terá sido referida por Jesus como o ‘buraco da agulha’. Mas, também esta ideia não tem muito suporte. Além disso, a porta pequena jamais foi referida pelos israelitas como o ‘buraco’ duma agulha. Esta teoria não apareceu antes do nono século. Os guias turísticos de Israel referindo-se ao buraco, colocam-no em comparação com as vigias estreitas, que aparecem em forma de agulha, como tem na frontaria da porta dourada, onde estão quatro dessas vigias em forma de
agulha, semelhantes a muralhas de um castelo. A impressão recolhida no semblante dos discípulos foi de horror. Justamente eles pensavam que os ricos entrariam muito mais facilmente: que não consegue um homem com dinheiro? Então Jesus resolve aprofundar o espanto e chocá-los, para que jamais esqueçam a lição, e faz uma comparação que os deixa boquiabertos: "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico entrar no reino dos céus". Teofilacto, no século 11°, em seus comentários evangélicos (Patrol. Graeca vol. 123) sugere que, em lugar de kámelos, "camelo", devia ler-se cámilos, "cabo", "corda grossa", aceitando a hipótese já lançada por Cirilo de Alexandria, em sua obra "Contra Julianum", cap. 6.º. Mas isso nada resolve. Além do que a expressão de Jesus encontra eco nos escritos rabínicos: "ninguém sonha com uma palmeira de ouro, nem com um elefante a passar pelo buraco de uma agulha" (Rabbi Raba, cfr. Strack e Billerbeck, vol. I, pág. 828). Ora, na época de Jesus os camelos eram comuns à vida quotidiana, ao passo que os elefantes constituíam recordações vagas de séculos atrás, por ocasião das guerras macedônicas. E o mesmo Jesus utiliza outra comparação com o camelo: "vós, que coais um mosquito e engolis um camelo" (Mat. 23: 24). A exclamação cheia de ternura, com que Jesus se dirige a seus discípulos, chamando-os "meus filhos" (tékna) parece querer abrandar o choque traumático que lhes causara. Na expressão "os que têm riquezas",o substantivo empregado é chrêmata, que engloba bens móveis e imóveis, ao passo que ktêmata exprime apenas os imóveis. No vers. 24 alguns códices trazem "Filhos, como é difícil aos que confiam nas riquezas entrar no reino dos céus". Esse adendo, na opinião dos hermeneutas, é glosa antiga, para justificar os ricos que não queriam desfazer-se de suas riquezas, mas cuja amizade interessava ao clero. Knabenbauer (Cursus Sacrae Scripturae Paris, 1894, pág. 271) esclarece muito atiladamente: (si glossa est, apte et opportune addebatur; neque enim opes incursat, sed eos qui ultra modus iis inhaerent), isto é, "se é uma glosa (Anotação que explica o sentido de uma palavra ou de um texto; comentário, interpretação.), foi acrescentada adequada e oportunamente; pois não condena as riquezas, mas aqueles que a elas se apegam além da medida". O trauma leva os discípulos (Lucas diz "os ouvintes") a interrogar-se entre si: "e quem poderá salvar-se"? Realmente todos os seres humanos têm posses, embora as de alguns seja constituída de alguns trapos para cobrir a nudez. Há então clara distinção entre pobreza efetiva e pobreza afetiva. A primeira, por maior que seja, talvez a posse de simples lata velha para beber água, pode envolver apego que provoque briga se alguém lha quiser tirar: enquanto a segunda, mesmo que se possuam bens em quantidade, é mantida com a psicologia do mero gerente ou mordomo, sem nenhum apego afetivo em relação a ela.Conclusão A essência da parabola , é a de causar mais espanto e reflexão entre os seus seguidores, o Pai nunca, em circunstância alguma impediria os ricos de terem a oportunidade de entrar no Reino de Deus, e a exaltação é feita aos excessos que o rico possa cometer pela riqueza , dando o mote de que realmente a prova da riqueza é muito dificil, porque o facilitismo, como foi dito não sinónimo de partilha isenta, mas um campo minado para quem detem a riqueza. Mas daí a dizer que mesmo falhando, não terá nova oportunidade de revitalização dos seus valores , é um engano. Nesta parabola, temos os primeiros comentários feitos por Jesus, enquanto se afastava o jovem rico, triste e preocupado (stygnasas, "de sobrecenho carregado") com a luta íntima que nele se travara entre a vontade incontrolável de seguir o Mestre, e o apego descontrolado a seus bens entre o amor ao Espírito e o amor à matéria. Marcos anota que Jesus "olhou em torno de si" (periblepsámenos), observando com penetração psicológica o efeito que nos discípulos causara a cena, e o que produziriam suas palavras. E disse: "Como os ricos entram com dificuldade no reino dos céus!" O advérbio dyskólôs, "dificilmente", é usado apenas aqui nos três sinópticos. Todos nós somos seres que falhamos e estamos em cumprimento da renovação, que nuns é mais lenta e noutros mais rapida.


Bibliografia


Sabedoria do Evangelho de Carlos Torres PastorinhoCursus Sacrae Scripturae Paris, 1894, pág. 271Cirilo de Alexandria, em sua obra "Contra Julianum", cap. 6.º.Teofilacto, no século 11°, em seus comentários evangélicos (Patrol. Graeca vol. 123)(Rabbi Raba, cfr. Strack e Billerbeck, vol. I, pág. 828). Evangelho segundo Espiritismo de Allan KardecVictor Kossi Agbanou, Le discours eschatologique de Matthieu 24-25: tradition et réaction, Paris, Lecoffre, 1983, 228pp., dans la série "Etudes bibliques. Nouvelle série" vol.2, br.orig., 3 cachets (dont un petit cachet sur les tranches inférieures), bon état, Johann Nepomuk Alber, Institutiones hermeneuticae Scripturae Veteris Testamenti

Victor Passos

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