terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Jugo Leve


“1. Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI:28-30).

2. Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perdas de seres queridos, encontram sua consolação na fé no futuro, e na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens.

Sobre aquele que, pelo contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições pesam com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem abrandar sua amargura.

Eis o que levou Jesus a dizer: "Vinde a mim, vós todos que estais fatigados, e eu vos aliviarei".

Jesus, entretanto, impõe uma condição para a sua assistência e para a felicidade que promete aos aflitos.

Essa condição é a da própria lei que ele ensina: seu jugo é a observação dessa lei.

Mas esse jugo é leve e essa lei é suave, pois que impõe como dever o amor e a caridade.”

Allan Kardec, o codificador, inicia o Cap. VI do Evangelho Segundo o Espiritismo, com a passagem de Mateus, o Jugo Leve.

Nesta passagem podemos observar, através das palavras de Jesus, que só na compreensão da doutrina do amor, os homens encontrarão consolo para as suas almas doloridas.

Jesus queria dizer: vinde a mim todos vós que vos achais sobrecarregados de dor, de angústia, de sofrimentos de toda a espécie, aprendei comigo através dos meus ensinos, as leis divinas às quais estais subordinados.

Aprendendo essas leis, estareis em condições de as aplicar às vossas vidas onde encontrareis a paz e a consolação para as vossas almas doloridas.

Acompanhavam o mestre, nas suas palestras, os humildes de coração, os famintos de consolo, os doentes de toda a espécie, os escravos dominados e oprimidos pelo orgulho seus patrões, as mulheres deserdadas de amor e de direitos, enfim, os humildes de coração que viram na mensagem sublime da boa nova, o bálsamo reconfortante para os seus males, onde encontravam um sentido para a vida, apesar do imenso sofrimento.

Absorvendo esses ensinos e essas emanações de paz e de amor, esses homens e mulheres humildes do coração, sentiam-se amados, sentiam-se úteis, sentiam que havia alguém que acreditava neles, que lhes dava alento, que os valorizava, com a palavra amiga, com a orientação apropriada.

O mestre ajudava com a palavra amiga e consoladora, aplicava passes curadores impregnados dos bálsamos sublimes promovendo a cura de imensas doenças físicas e espirituais, mas no final tinha sempre uma recomendação, vai e não faças igual, para que não te aconteça coisa pior.

Todos ficavam extasiados com o seu amor, com o seu magnetismo que lhes tocavam as fibras mais íntimas, recebendo dele as energias que os sustentariam na mudança interior, na sua transformação.

É triste não saber porque se sofre, e se não sabemos porque sofremos, pouco beneficiaremos desse sofrimento.

Allan Kardec, explica que o jugo é o esforço que temos de fazer por nos orientarmos sempre dentro do cumprimento e observação da lei, lei essa que tem a sua base de sustentação no amor.

O jugo suave é a aplicação prática, nas nossas vidas, desses princípios que nos harmonizaram com as leis divinas ou naturais.

Ir ao encontro do cristo, é aprender para depois poder praticar.

Ninguém é capaz de fazer bem, sem primeiro aprender, o mesmo ocorre em qualquer actividade, primeiro a instrução depois a execução.

Como espíritos em evolução que somos, revelamos as nossas mazelas, os nossos sofrimentos cuja causa não tendo a sua origem na vida presente, certamente estará numa vida ou vidas anteriores, onde todos nós cometemos atropelos às leis às quais estamos vinculados.

Jesus compreendendo esse nosso despreparo espiritual, com carinho e amor, através da palavra simples e sábia, apontou o caminho e instruindo, mas não abdicou de dizer que o caminho é para ser seguido sob a responsabilidade de cada um.

Jesus disse, vinde a mim vós que sofreis e eu vos aliviarei, não disse o mestre que nos carregava a nossa cruz, isso é conquista que nos compete realizar através do nosso próprio esforço.

Só após conhecer e praticar essas leis naturais, às quais estamos vinculados, é que teremos a paz e o consolo para as nossas almas.

Reconhecemos que estas palavras do Cristo não são meros preceitos morais, mas que, revelam leis.

Hoje a doutrina espírita explica essas leis, através da pluralidade das existências, através da lei de repetição, da lei de tentativa e erro, onde o espírito imortal vai assimilando conquistas no seu património evolutivo, compreendendo através da dor o que poderia ser feito pelo amor.

Apenas temos duas alternativas disponíveis, a da prática do amor por amor, que dará a felicidade relativa ao nosso estágio evolutivo, ou, caso contrário, o sofrimento e o desespero provocado pela nossa teimosia e orgulho disfarçado, que teima em não atender às leis amorosas do Pai, resvalando pela nossa teimosia no vale da dor, que nos fará despertar lentamente para o amor.

Conhece a verdade e a verdade te libertará, disse o mestre Jesus.

Mas libertará de quê perguntamos? Libertará da ignorância espiritual.

Com kardec e através da doutrina espírita, vem o espírito de Verdade dizer.

Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo.

Constatamos que a lei do amor é a pedra base da nossa sustentação, porém, uma nova lei se faz necessária ter em conta, a do estudo edificante em todas as áreas do saber e em particular do conhecimento espiritual.

Aspirando a valores mais nobres e mais sublimes, entrando em sintonia com as esferas mais altas da vida, permutaremos conhecimentos, vibrações doces e suaves que nos fortalecerão e nos libertarão do sofrimento que a nossa marcha evolutiva nos manchou, fruto do nosso despreparo espiritual.

Que o entendimento da mensagem do que nos compete realizar seja por nós assimilado e melhor praticado.

Carlos Santa Marinha

Um comentário:

Esoestudos - Marco Aurélio Leite da Silva disse...

Existem guerreiros empunhando armas, lavradores empunhando alfanjes, operários empunhando ferramentas, intelectuais empunhando livros, e mais toda sorte de evolucionários na seara de seu burilamento interior. Todos, sem exceção, travam a luta de sua Vida, cada qual com seus combates e, ao mesmo tempo, comungando da lide que a todos toca. De fato, quem não enfrenta a mentira, a inveja, o despeito, a aleivosia, quando não a maldade direta, a ofensa, a calúnia, a agressão moral ou física?

Quem passa pela Terra sem que, em algum momento, tenha diante de si a dor, o medo, a ansiedade, a desolação?

O sofrimento, seja dos minerais, seja dos homens, parece mesmo a tônica do aperfeiçoamento nesta dimensão da Vida.

Mas não sejamos pessimistas.

Sempre e sempre a dor é a mola propulsora de fenômenos inimagináveis. Tenhamos ou não noção disso, acreditemos ou não, pouco importa, a dor sempre nos embala para cima. Por mais irônico que pareça, simplesmente é assim.

Há um enunciado espiritualista muito sábio: a dor é inevitável, mas o sofrimento não. Cada milímetro conquistado na compreensão das coisas da Vida, levar-nos-á a uma absorção menos dolorosa das lições que essa Vida impõe.

O diamante é formado por imensa pressão.

As pérolas se formam por constante irritação.

As tempestades renovam a atmosfera.

A dor nos faz mais tolerantes, mais benevolentes, mais indulgentes, mais capacitados ao perdão.

As revoluções geológicas amoldam as gemas belíssimas e perfeitas dos cristais preciosos.

As seivas e haustos vegetais sustentam a vida de milhares de seres e cobrem o orbe com o manto sagrado das cores com que a primavera perfuma a Vida.

Os instintos burilados nos irmãozinhos sem plena razão bailam no homem com o encanto do cão amigo enquanto uma compreensão maior não impede a rapina dos recursos de criadouros.

Tenhamos confiança. Deus está em cada detalhe da Vida. Procuremo-Lo antes de tudo e tudo o mais nos virá.

Não tenhamos vergonha de chorar de vez em quando. A mais diamantina Alma que há habitou um corpo humano certa vez disse "Pai, afasta de mim esse cálice".