quarta-feira, 30 de junho de 2010
A SUBLIMIDADE DA MORTE
Mortes cardíacas, cerebrais e encefálicas. Eutanásia. Situação do Espírito e seu aprendizado
Muito importantes e de grande interesse o conteúdo das perguntas de nossa leitora... O assunto, de grande complexidade, conduz a conseqüências polêmicas, isto é, ao transplante de órgãos e à Eutanásia...
Morte cardíaca. A "Morte Cardíaca" é a parada do funcionamento do coração e a conseqüente parada da respiração sem que haja, necessariamente, a lesão das células cardíacas. Por muito tempo a definição de morte biológica ficou adstrita a essa concepção de "Morte Cardíaca" , tal a importância que se dava ao coração, inclusive, a pergunta 69 de O Livro dos Espíritos (OLE) de KARDEC tem essa conotação, mas a resposta da Espiritualidade foi esclarecedora e com um conhecimento Superior para a época:
— O coração é uma máquina de vida. Mas não é ele o único órgão em que uma lesão causa a morte; ele não é mais do que uma das engrenagens essenciais.
Com o desenvolvimento tecnológico do século 20 e o surgimento de transplante cardíaco e de medicamentos e máquinas capazes de restauração da vida, poucos minutos após a parada cardíaca e, em alguns casos, mantê-la por tempo indeterminado, o conceito de morte biológica teve de ser reformulado, o de "Morte Cardíaca" ficou ultrapassado cientificamente... Então, as autoridades médicas mundiais, passaram a considerar a "Morte Cerebral" como a definição biológica de morte.
Morte cerebral. Como vimos, em nosso primeiro artigo nesta Coluna SAÚDE (JDE, Ano I, n.º 3, março/abril de 2004, p. 4), uma pessoa pode restabelecer-se depois de passar pelo coma, nos chamados comas reversíveis. Entretanto, havendo a "Morte Cerebral" ou "Cortical", apenas a vida relação do indivíduo encarnado ficará comprometida, isto é, não poderá se relacionar com outras pessoas, pois perdeu a consciência, neurologicamente falando.... Além disso, a Morte Cerebral é um estado tal que a falta de oxigênio (anóxia) nos tecidos cerebrais acabam por produzir uma lesão irreversível de células cerebrais, pois, como se sabe, estas não se regeneram. Neste estado, não há atividade elétrica no cérebro e o eletroencefalograma (EEG) exibe um traçado isoelétrico, isto é, um traçado plano, sem ondas...Não obstante, pode ocorrer nesta situação que a pessoa mantenha seu coração e pulmões em funcionamento, se o tronco cerebral estiver funcionando...
Assim, caríssimos leitores, também o critério de "Morte Cerebral" já não atende mais aos modernos conhecimentos científicos, por isso, passou-se a adotar, mundialmente, o conceito de "Morte encefálica",
Morte encefálica. A "Morte Encefálica" é a parada definitiva e irreversível, não só do cérebro, mas também do tronco cerebral (incluídos aqui, o mesencéfalo, a ponte, o bulbo raquídeo e ... o cerebelo). Assim, a Morte encefálica além de comprometer irreversivelmente a vida de relação; também, naturalmente, compromete a vida vegetativa, pois esta é mantida basicamente pelos centros nervosos existentes no tronco cerebral, especialmente no bulbo raquídeo, que controlam a circulação sangüínea, respiração, metabolismo, etc...
Em 1997, o Conselho Federal de Medicina (CFM) do Brasil publicou os Critérios para a Caracterização da Morte Encefálica, num total de 10 artigos, ante as necessidades, dentre outras, de "judiciosa interrupção de emprego de recursos tecnológicos" para o prolongamento da vida vegetativa e ante a "necessidade da adoção de critérios para constatar, de modo indiscutível, a ocorrência de morte" (cf. Resolução N º 1480 do CFM, de 08 de agosto de 1997).
Aí está: embora haja morte encefálica é possível manter o corpo vivo, artificialmente, às custas de medicamentos e através de aparelhos, o coração e pulmões voltam a funcionar, além do corpo ser alimentado endovenosamente; teríamos aí uma vida vegetativa artificial... A suspensão de tais procedimentos médicos que mantêm o coração e pulmões em funcionamento por longos períodos, ante a morte encefálica, levanta a difícil questão ética da Eutanásia.
Eutanásia.
A Eutanásia é a indução de morte suave em casos específicos, que ainda não estão bem definidos, pois há polêmicas do ponto de vista do "Direito de morte" e da "Ética", pelos abusos que ela propiciaria...
A nosso ver, de acordo com os atuais conhecimentos científicos, mundialmente considerados, não haveria homicídio ao se desligarem os aparelhos e suspenderem os medicamentos que mantêm uma pessoa em vida puramente vegetativa, artificialmente; tanto assim que o nosso CFM baixou uma Resolução definindo parâmetros claros e específicos para a caracterização da Morte Encefálica e, conseqüentemente, da definição de Morte biológica. No entanto, é muito difícil estabelecer-se o momento exato em que se dá a Morte Encefálica, por isso a Resolução do CFM preconiza a repetição do exame para a constatação da Morte, para efeito de transplantes, por exemplo...
Há uma grande polêmica sobre o assunto, que não entraremos nela neste artigo e há até um pensamento interessante, atribuído a VEGA DIAZ, que diz: "Um segundo pode ser a unidade de tempo que faça de um sujeito vivo um cadáver, mas também pode fazer da morte um homicídio".
Situação do Espírito ante a Morte cardíaca, cerebral e encefálica. Seu aprendizado. Parece-nos que há uma tendência no movimento espírita a encararr a vida, biologicamente considerada, como propiciada pelo Modelo Organizador Biológico (MOB), de uma forma mecanicista e fatalista. Admitimos, sim, que o Espírito fornece a Diretriz da Organização Biológica (DOB), mas não é condição sine qua non para a vida biológica, tanto assim é que há seres vivos sem Espírito, como as plantas, por exemplo e até indivíduos encarnados sem Espírito, anencéfalos (sem cérebro) e natimortos [a propósito, leia-se questão 356 de O Livro dos Espíritos (OLE) de ALLAN KARDEC e resposta], que conseguem manter uma vida vegetativa, natural e artificialmente. O que mantém a vida biológica de um corpo é o fluido vital, extraído do Fluido Cósmico Universal do planeta em que o corpo habita (cf. Livro I - Cap. IV de OLE), e não o Espírito.
Em relação à situação do Espírito, diremos que tanto uma pessoa com Morte Cerebral quanto com Morte Encefálica não mais abrigam um Espírito em seu corpo, pois em ambas há lesões irreversíveis das células cerebrais e, sem cérebro não há vida de relação e a vida vegetativa pode ser mantida em ambos os casos não pelo Espírito, mas pelo fluido vital remanescente, naturalmente no primeiro caso e artificialmente no segundo...
Quanto à Morte Cardíaca somente, sim, a pessoa pode estar abrigando um Espírito em seu corpo, mas este estaria ligado a ele por laços muito tênues. Em nosso primeiro artigo nesta Coluna já abordamos a questão da Near Death Experience (NDE) ou Experiência de Quase Morte (EQM), em que o Espírito goza de grande liberdade; mas não só aqui, também em doenças terminais o Espírito pode emancipar-se parcialmente; a este respeito, leiamos a questão 407 de OLE e a resposta:
É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?
- Não. O Espírito recobra a sua liberdade quando os sentidos se entorpecem; ele aproveita para se emancipar, todos os instantes de descanso que o corpo lhe oferece. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito de desprende, e quanto mais fraco estiver o corpo, mais o Espírito estará livre" (o grifo é nosso).
Nosso Espírito nunca permanece inerte, ele está em constante aprendizado, seja no sono, seja no sonambulismo natural ou artificial, no êxtase, na EQM, enfim, em todas as condições de animismo, principalmente "quanto mais fraco o corpo estiver", nas doenças terminais, por exemplo...
Parece-nos que muitas vezes as pessoas com doenças terminais possuem certeza de sua própria morte biológica e as tentativas, louváveis, dos médicos para manterem a pessoa viva só atrapalhariam a eventual evolução desta pessoa... Compartilhamos esta opinião de uma das que mais estudaram o assunto, a psiquiatra suíça ELISABETH KLÜBER-ROSS. Obviamente, não defendemos a Eutanásia, nem o suicídio, até porque a resposta à questão 950 é clara neste aspecto:
Que pensar daquele que tira a própria vida com a esperança de chegar mais cedo a uma vida melhor?
- Outra loucura! Que ele faça o bem e estará mais seguro de alcançá-la, porque, daquela forma, retarda a sua entrada num mundo melhor e ele mesmo pedirá para vir completar essa vida que interrompeu por uma falsa idéia. Uma falta, qualquer que ela seja, não abre jamais o santuário dos eleitos.
A propósito, disse a Dra. ELISABETH KÜBLER – ROSS logo no primeiro capítulo do seu livro A Roda da Vida, em tom de blague: "Há anos tenho sido perseguida por uma certa má reputação." E prosseguindo, esclareceu: "(...) Na verdade, tenho sido perseguida por pessoas que me vêem como Aquela senhora que Fala Sobre a Morte e o Morrer. Acreditam que o fato de ter passado mais de três décadas fazendo pesquisas sobre a morte e a vida depois da morte faz de mim uma especialista no assunto. Acho que não compreenderam bem. O único fato incontestável em meu trabalho é a importância da vida" (op. cit., Edit. Sextante, 7 ª ed., p. 13).
ELISABETH KÜBLER – ROSS – uma grande vida dedicada aos moribundos e doentes terminais
A suíça ELISABETH KÜBLER – ROSS formou-se em Medicina na Universidade de Zürich, em 1957. Começou seu trabalho pioneiro com doentes terminais na Universidade do Centro Médico Colorado, em Denver. Foi professora de Clínica de Medicina do Comportamento e Psiquiatria na Universidade de Virgínia, em Charlottesville.
Em 1979, o Jornal Ladies’ Home honrou-a com o prêmio de Mulher da Década, depois de ter sido eleita Mulher do Ano em Ciência e Pesquisa, em 1977.
Há uma extensa lista de seus livros, citaremos alguns deles: O Túnel e a Luz; Perguntas e respostas sobre a morte e o morrer ; Para viver até dizermos adeus; Vivendo com a Morte e o Morrer; O estágio final do crescimento; Sobre crianças e Morte; AIDS: o último desafio; etc.
No livro A Roda da vida – Memórias do viver e do morrer, diz a Dra. KÜBLER – ROSS: “As adversidades sempre nos tornam mais fortes. As pessoas sempre me perguntam como é a morte. Digo-lhes que é sublime. É a coisa mais fácil que terão de fazer. A vida é dura. A vida é luta.” (op. cit. p. 18).
Aí está: a morte é “sublime”! E isso é dito por uma das maiores (talvez a maior) especialistas sobre o fenômeno da morte e do morrer e, por que não dizer: sobre a VIDA.
Texto: Dr. Iso Jorge Teixeira
Texto publicado no "Jornal de Espiritismo" e oferecido por um membro da AME Porto
que é responsável pelo espaço jornalístico da coluna "Medicina e Espiritualidade"
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