quinta-feira, 27 de maio de 2010

Animismo


Revestem-se de profunda sabedoria e oportunidade as palavras do Assistente Àulus, no capitulo «Emersão do passado», quando afirma que muitos espíritos «vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de realização do bem».

Efetivamente essa é a verdade.

Muitos companheiros se mostram incapazes de remover os obstáculos criados pelo animismo, destruindo, assim, magnífica oportunidade de ajudarem elementos que, buscando os centros espíritas nessas condições, poderiam, posteriormente, contribuir em favor dos necessitados.

Que é Animismo?

Essa pergunta deve ser colocada em primeiro plano, no presente capítulo, como ponto de partida para as nossas singelas considerações.

Animismo é o fenômeno pelo qual a pessoa arroja ao passado os próprios sentimentos, «de onde recolhe as impressões de que se vê possuída».

A cristalização da nossa mente, hoje, em determinadas situações, pode motivar, no futuro, a manifestação de fenômenos anímicos, do mesmo modo que tal cristalização ou fixação, se realizada no passado, se exterioriza no presente.

A lei é sempre a mesma, agora e em qualquer tempo ou lugar.

Muitas vezes, portanto, aquilo que se assemelha a um transe mediúnico, com todas as aparências de que há a interferência de um Espírito, nada mais é do que o médium, naturalmente o médium desajustado, revivendo cenas e acontecimentos recolhidos do seu próprio mundo subconsciencial, fenômeno esse motivado pelo contato magnético, pela aproximação de entidades que lhe partilharam as remotas experiências.

No fenômeno anímico o médium se expressa como se ali estivesse, realmente, um Espírito a se comunicar.

O médium nessas condições deve ser tratado «com a mesma atenção que ministramos aos sofredores que se comunicam» .

Por isso, a direção de trabalhos mediúnicos pede, sem nenhuma dúvida, muito amor, compreensão e paciência - virtudes que, somadas, dão como resultado aquilo que os instrutores classificam como «TATO FRATERNO», a fim de que não sejam prejudicados os que em tais condições se encontram.

Se o dirigente de sessões mediúnicas não é portador de sincera bondade, acreditamos que pouco ou nenhum benefício receberá o médium no agrupamento.

O médium inclinado ao animismo é um vaso defeituoso, que «pode ser consertado e restituído ao serviço», pela compreensão do dirigente, ou destruído, pela sua incompreensão.

Reajustado, pacientemente, com os recursos da caridade evangélica, pode transformar-se em valioso companheiro.

Incompreendido, pode ser vitimado pela obsessão.

Nos fenômenos psíquicos, comuns nos agrupamentos mediúnicos, há, por conseguinte, de se fazer a seguinte distinção:

1. Fatos anímicos
2. Fatos espiríticos

Fatos anímicos são, como já acentuamos, aqueles em que o médium, sem nenhuma idéia preconcebida de mistificação, recolhe impressões do pretérito e as transmite, como se por ele um Espírito estivesse comunicando.

Fatos espiríticos ou mediúnicos, propriamente ditos, são aqueles em que o médium é, apenas, um veículo a receber e transmitir as idéias dos Espíritos desencarnados ou. ... encarnados.

O estudo e a observação ajudam-nos a fazer tal distinção.

Uma pessoa encarnada também pode determinar uma comunicação mediúnica, isto é, fazer que o sensitivo lhe assimile as ondas mentais e as reproduza pela escrita ou pela palavra.

Em face da lei de sintonia, pessoas adormecidas igualmente podem provocar comunicações mediúnicas, uma vez que, enquanto dormimos, nosso Espírito se afasta do corpo e age sobre terceiros, segundo os nossos sentimentos, desejos e preferências.

Voltemos, porém, às considerações em torno da necessidade de os dirigentes e colaboradores do setor mediúnico se munirem de recursos evangélicos, a fim de que as tarefas assistenciais, a seu cargo, apresentem aquele sentido edificante e construtivo que é de se almejar nas atividades espiritistas cristãs.

Vejamos a conclusão de André Luiz, ante as ponderações de Àulus e o exame do caso da senhora objeto da assistência do grupo do irmão Raul Silva:

«Mediúnicamente falando, vemos aqui um processo de autêntico animismo. Nossa amiga supõe encarnar uma personalidade diferente, quando apenas exterioriza o mundo de si mesma.»

A fixação mental - assunto abordado no capitulo próprio, neste livro - provoca o animismo.

Imaginemos, agora, o que pode ocorrer se uma criatura em tais condições busca um núcleo mediúnico onde apenas funciona o intelectualismo pretensioso, seguido da doutrinação periférica, sem o menor sentido de fraternidade!

Ao invés de compreensão, tal criatura encontrará, sem dúvida, a ironia e a má vontade, acompanhadas, via de regra, do comentário maledicente.

Ao invés de companheiros interessados no seu reajustamento, encontrará verdugos fantasiados de doutrinadores.

Ao invés do socorro que se faz indispensável, ver-se-á defrontada, impiedosamente, por companheiros, às vezes até bem intencionados, que, em nome da «verdade», ou melhor, das «suas verdades», não lhe compreenderão o aflitivo problema.

Ouçamos o Assistente Àulus:

«Por isso, nessas circunstâncias, é preciso armar o coração de amor, a fim de que possamos auxiliar e compreender. Um doutrinador cem TATO FRATERNO apenas lhe agravaria o problema, porque, a pretexto de servir à verdade, talvez lhe impusesse corretivo inoportuno, ao invés de socorro providencial. Primeiro é preciso remover o mal, para depois fortificar a vitima na sua própria defesa.»

O doutrinador usará sempre do carinho fraterno, fazendo que as suas palavras, dirigidas ao espírito do próprio médium, levem o melhor que a sua alma prosa oferecer.

A consolação e a prece, seguidas do esclarecimento edificante, são os recursos aplicáveis ao caso.

Recorramos ao livro «Nos Domínios da Mediunidade», reproduzindo-lhe alguns tópicos relativos ao assunto:

«Solucionados diversos problemas alusivos ao programa da noite, eis que uma das senhoras enfermas cai em pranto convulsivo, exclamando:

- Quem me socorre? quem me socorre ?!...

E comprimindo o peito com as mãos, acrescentava em tom comovedor:

- Covarde? porque apunhalar, assim, uma indefesa mulher? serei totalmente culpada? meu sangue condenará o seu nome infeliz...»

Lembremos que André Luiz e Hilário, em companhia do assistente Àulus, visitam o grupo dirigido pelo irmão Raul Silva, e que a cena acima descrita aparece no capitulo «Emersão do passado».

Notemos que todos os indícios revelam, à primeira vista, as características de uma comunicação mediúnica; Contudo, estamos apenas diante de um autêntico fenômeno de animismo.

A senhora enferma, com a mente cristalizada no pretérito, identifica-se com cenas desagradáveis, às quais está diretamente ligada.

«Ante a aproximação de antigo desafeto, que ainda a persegue de nosso plano, revive a experiência dolorosa que lhe ocorreu, em cidade do Velho Mundo, no século passado.»

É ainda Àulus quem explica:

«Sem dúvida, em tais momentos, é alguém que volta do pretérito a comunicar-se com o presente, porque, ao influxo das recordações penosas de que se vê assaltada, centraliza todos os seus recursos mnemônicos tão somente no ponto nevrálgico em que viciou o pensamento. Para o psiquiatra comum é apenas uma candidata à insulinoterapia ou ao eletrochoque; entretanto, para nós, é uma enferma espiritual, uma consciência torturada, exigindo AMPARO MORAL E CULTURAL para a renovação intima, única base sólida que lhe assegurará o reajustamento definitivo.»

Esse amparo moral, a que alude o Assistente, podemos defini-lo como paciência, carinho e consolo.

O cultural ser-lhe-á ministrado pelo estudo evangélico e doutrinário que, além do esclarecimento, operar-lhe-á a modificação dos centros mentais, reajustando-lhe a mente.

E, concluindo, é oportuno perguntemos :

Podem os serviços mediúnicos prescindir do Evangelho e da Doutrina?

A resposta cada um a encontrará na própria consciência...

Martins Peralva
(Retirado de "Estudando a Mediunidade" - FEB)

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