quarta-feira, 20 de maio de 2020

A OSTENTAÇÃO



REVISTA ESPÍRITA

Jornal de Estudos Psicológicos

ANO III Abril de 1860 Nº 4

A OSTENTAÇÃO

(Sociedade, 16 de dezembro de 1860 – Médium: Srta. Huet)

Numa bela tarde de primavera, um homem rico e generoso estava sentado em seu salão; sorvia, feliz, o perfume das flores de seu jardim. Enumerava, complacente, todas as boas obras que tinha praticado durante o ano. A essa lembrança não pôde deixar de lançar um olhar quase desprezível sobre a casa de um de seus vizinhos, que não pudera dar senão módica moeda para a construção da igreja paroquial. De minha parte, disse ele, dei mais de mil escudos para essa obra pia; deitei negligentemente uma cédula de 500 francos na bolsa que me estendia aquela jovem duquesa, em favor dos pobres; dei muito para as festas de beneficência, para toda sorte de loterias e creio que Deus me será grato por tanto bem que fiz. Ah! ia esquecendo uma pequena esmola, que dei há pouco tempo a uma infeliz viúva, responsável por numerosa família e que ainda cria um órfão. Mas o que lhe dei é tão pouco que, por certo, não será por isso que o céu se me abrirá.

Tu te enganas, respondeu de repente uma voz que lhe fez voltar a cabeça: é a única que Deus aceita, e eis a prova. No mesmo instante uma mão apagou o papel em que ele havia escrito todas as suas boas obras, deixando apenas a última; ela o levou ao céu.

Não é, pois, a esmola dada com ostentação que é a melhor, mas a que é dada com toda a humildade do coração.

Joinville, Amy de Loys

AMOR E LIBERDADE

(Sociedade, 27 de janeiro de 1860 – Médium: Sr. Roze)

Deus é amor e liberdade. É pelo amor e pela liberdade que o Espírito se aproxima d’Ele. Pelo amor desenvolve, em cada existência, novas relações que o aproximam da unidade; pela liberdade escolhe o bem que o aproxima de Deus. Sede ardorosos na propagação da nova fé; que o santo ardor que vos anima jamais vos leve a atentar contra a liberdade alheia. Evitai, por meio de uma insistência muita grande junto à incredulidade orgulhosa e temível, de exasperar uma existência meio vencida e prestes a render-se. O reino da violência e da opressão acabou; o da razão, da liberdade e do amor fraterno está começando. Não é mais pelo medo e pela força que os poderosos da Terra adquirirão, doravante, o direito de dirigir os interesses morais, espirituais e físicos dos povos, mas pelo amor e pela liberdade.

Abelardo





A IMORTALIDADE

(Sociedade, 3 de fevereiro de 1860 – Médium: Srta. Huet)

Como pode um homem, e um homem inteligente, não crer na imortalidade da alma e, consequentemente, numa vida futura, que não é outra senão a do Espiritismo? Em que se tornariam esse amor imenso que a mãe devota ao filho, esses cuidados com que o cerca na infância, essa atitude esclarecida que o pai dedica à educação desse ser bem-amado? Tudo isso seria, então, aniquilado no momento da morte ou da separação? Seríamos, assim, semelhantes aos animais, cujo instinto é admirável, sem dúvida, mas que não cuidam de sua progênie com ternura senão até o momento em que ela cessa de ter necessidade dos cuidados maternos? Chegado esse momento, os pais abandonam os filhos e tudo está acabado: o corpo está criado, a alma não existe. Mas o homem não teria uma alma, e uma alma imortal! E o génio sublime, que só se pode comparar a Deus, tanto d’Ele emana, esse génio que gera prodígios, que cria obras primas, seria aniquilado pela morte do homem! Profanação! Não se pode aniquilar assim as coisas que vêm de Deus. Um Rafael, um Newton, um Miguel Ângelo e tantos outros génios sublimes abarcam ainda o Universo em seu Espírito, embora seus corpos não mais existam. Não vos enganeis; eles vivem e viverão eternamente. Quanto a se comunicarem convosco, é menos fácil de admitir pela generalidade dos homens. Somente pelo estudo e pela observação eles podem adquirir a certeza de que isso é possível.

Fénelon

PARÁBOLA

(Sociedade, 9 de dezembro de 1859 – Médium: Sr. Roze)

Em sua última travessia um velho navio foi assaltado por terrível tempestade. Além de grande número de passageiros, transportava uma porção de mercadorias estrangeiras ao seu destino, acumuladas pela avareza e cupidez de seus donos. – O recusavam a lançar a carga no mar; suas ordens eram ignoradas; tinham perdido a confiança da tripulação e dos passageiros. Era preciso pensar em abandonar o navio. Puseram três embarcações no mar: na primeira, a maior, precipitaram-se, aturdidos, os mais impacientes e os mais inexperientes, que se apressaram a remar na direção da luz que avistaram ao longe, na costa. Caíram nas mãos de um bando de corsários, que os despojaram dos objetos preciosos que haviam recolhido às pressas, maltratando-os sem piedade.

Os segundos, mais espertos, souberam distinguir um farol libertador em meio às luzes enganadoras que alumiavam o horizonte e, confiantes, abandonaram o barco ao capricho das ondas; foram arrebentar nos arrecifes, ao pé do próprio farol, do qual não haviam tirado os olhos. Foram tanto mais sensíveis à sua ruína e à perda de seus bens quanto haviam entrevisto a salvação.

Os terceiros, pouco numerosos, mas sábios e prudentes, guiavam com cuidado o frágil barco em meio aos obstáculos; salvaram corpos e bens, sem outro mal além da fadiga da viagem.

Não vos contenteis, portanto, em vos guardardes contra a pirataria e contra os Espíritos maus, mas sabei, também, evitar o erro dos viajantes negligentes, que perderam os bens e naufragaram no porto. Sabei guiar vosso barco em meio aos escolhos das paixões e atracareis com felicidade no porto da vida eterna, ricos das virtudes que tiverdes adquirido em vossas viagens.

São Vicente de Paulo

O ESPIRITISMO

(Sociedade, 3 de fevereiro de 1860 – Médium: Sra. M.)

O Espiritismo é chamado a esclarecer o mundo, mas necessita de um certo tempo para progredir. Existiu desde a Criação, mas só era conhecido por algumas pessoas, porque, em geral, a massa pouco se ocupa em meditar sobre questões espíritas. Hoje, com o auxílio desta pura doutrina, haverá uma luz nova. Deus, que não quer deixar a criatura na ignorância, permite que os Espíritos mais elevados venham em nosso auxílio, para contrabalançar a ação do Espírito das trevas, que tende a envolver o mundo. O orgulho humano obscurece a razão e a faz cometer muitas faltas na Terra. São necessários Espíritos simples e dóceis, para comunicarem a luz e atenuarem todos os nossos males. Coragem! Persisti nesta obra, que é agradável a Deus, porque ela é útil para a sua maior glória, e dela resultarão grandes bens para salvação das almas.

Francisco de Sales


Nenhum comentário: