segunda-feira, 17 de maio de 2010

As manifestações de efeitos inteligentes




O Espírito comunicante não se preocupa no que vamos dizer aqui com a mão do médium, para a mediação do cérebro, para fazê-lo escrever. O Espírito comunicante, por sua vontade, imprime ao cordão fluídico movimentos ondulatórios que se repercutem no perispírito do médium ; essas vibrações chegando ao cérebro perispiritual, fazem vibrar as partes análogas àquelas pelas quais são emitidas no espírito, de sorte que essas vibrações semelhantes estimulam idéias de mesma natureza. Isto é o que se passa aliás no caso da palavra. Quando se pronuncia a palavra homem, as vibrações sonoras chegando ao cérebro o fazem vibrar de uma certa maneira que evoca no espírito daquele que escuta a idéia representada pela palavra homem. As vibrações perispirituais agem da mesma forma, mas sem passar, no caso de que nos ocupamos, pelos órgãos materiais da audição. Nesta circunstância a regra da alma encarnada não é passiva ; é ela quem recebe o pensamento do espírito e que o transmite. O médium, nesse gênero de comunicação, tem então consciência do que escreve, ainda que esse não seja de forma alguma seu pensamento.

Se for assim, dirá você, nada prova que seja antes o espírito comunicante que escreve e não o do médium. A distinção é, algumas vezes, muito difícil de ser feita, mas pode-se reconhecer o pensamento sugerido pelo fato de que ele não é jamais preconcebido ; ele se forma, por assim dizer, à medida que se escreve, e freqüentemente é contrário à idéia preliminar que se tinha feito ; ele pode mesmo estar, neste caso, fora dos conhecimentos do médium.

No exercício da mediunidade intuitiva, no estado de vigília, muitos se desencorajam diante da impossibilidade de distinguir as idéias que lhes são próprias daquelas que lhes são sugeridas. É entretanto fácil, cremos nós, reconhecer idéias de procedência externa. Elas jorram espontaneamente, de improviso, como clarões súbitos emanando de um foco desconhecido, enquanto que nossas idéias pessoais, que provêm de nosso interior, estão sempre à nossa disposição e ocupam, de maneira permanente, nosso intelecto. Não é somente que as idéias inspiradas surjam como por encantamento, mas elas se seguem, se encadeiam delas mesmo e se exprimem com rapidez, por vezes de uma maneira febril.

Allan Kardec distinguiu perfeitamente duas variedades de mediunidade, a saber a mediunidade mecânica e a mediunidade intuitiva: ele disse que a regra do médium mecânico é a de uma máquina, enquanto que o médium intuitivo age como o faria um intermediário ou intérprete. Este, com efeito, para transmitir o pensamento dos interlocutores, deve compreendê-lo, se apropriar dele de alguma maneira, para o traduzir fielmente; e portanto este pensamento não é o seu, apenas atravessa seu cérebro; tal é exatamente o que se passa com o médium intuitivo.

Observemos ainda que o desenvolvimento intelectual do intermediário é indispensável para que ele possa exprimir corretamente as idéias que recebeu. Como é ele quem escreve, quem redige, pode dar aos pensamentos sugeridos uma forma mais ou menos literária, segundo seus estudos e suas capacidades. É então, sobretudo do ponto de vista moral, e pelas provas que fornecem, que é preciso julgar as comunicações e não se ater muito ao estilo que pode perfeitamente estar desfigurado pelo intérprete. Eles se comunicam com os Espíritos encarnados apenas pela radiação de seu pensamento.

É por isso que, qualquer que seja a diversidade dos espíritos que se comunicam com um médium, os ditados obtidos por ele, procedentes de espíritos diversos, trazem um traço da forma e do colorido pessoal do médium. Ainda que o pensamento lhe seja inteiramente externo, ainda que o assunto saia do quadro no qual ele habitualmente se situa, ainda que queiramos dizer que não provém de forma alguma dele, ele ainda assim influencia a forma, pelas qualidades e pelas propriedades que são adequadas a esse indivíduo.

Pode-se ler em « O Livro dos Médiuns » a seguinte comunicação : «É com certeza como quando vocês olham diferentes pontos de vista com óculos coloridos, verdes, brancos ou azuis ; ainda que os pontos de vista ou objetos sejam completamente opostos e inteiramente independentes uns dos outros, eles sempre oferecem um colorido que provém da cor das lentes. Ou melhor, comparemos os médiuns com esses vidros cheios de líquidos coloridos e transparentes ; bem, somos como as luzes que iluminam certos pontos de vista morais, filosóficos e científicos, através dos médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de tal sorte que nossos raios luminosos, obrigados a passar através de vidros mais ou menos bem talhados, mais ou menos transparentes, quer dizer por médiuns mais ou menos inteligentes, não chegam sobre os objetos que queremos iluminar sem emprestar-lhes a tintura, ou melhor a forma própria e particular desses médiuns.»

O pensamento do Espírito agente é uno em seu princípio de emissão, mas variado em suas manifestações, segundo o estado mais ou menos perfeito dos instrumentos que emprega. Cada médium marca com a impressão de sua personalidade a inspiração que lhe vem de mais alto. Quanto mais intelectualizado e espiritualizado o sujeito, mais os instintos materiais são nele contidos, e mais o pensamento superior será transmitido com pureza e fidelidade.

A grande corrente de um rio não pode escoar através de um canal estreito ; da mesma forma um Espírito inspirador só será bem sucedido se transmitir pelo organismo do médium apenas aquelas concepções que encontrarão um terreno preparado. Por um grande esforço mental, sob a excitação de uma força exterior, o médium poderá exprimir concepções acima de seu próprio saber ; mas, na expressão das idéias sugeridas, se encontrará seus termos favoritos, seus modo de dizer frases habituais, a despeito do estímulo que de súbito, por um instante, empresta mais amplitude e elevação à sua linguagem.

Quase todos os autores, escritores, oradores e poetas, são médiuns em certos momentos : tem a intuição de uma assistência oculta que os inspira e participa em seus trabalhos. Eles o confessam a si mesmos nos momentos de expansão.

Thomas Paine escreveu : « Não há ninguém que, estando ocupado do progresso do espírito humano, não tenha feito esta observação de que há duas classes bem distintas do que se nomeou Idéias ou Pensamentos : aquelas que são produzidas em nós mesmo pela reflexão e aquelas que se nascem delas mesmo em nosso espírito. Eu me fiz uma obrigação de sempre acolher com delicadeza esses visitantes inesperados e de pesquisar com todo o cuidado de que sou capaz se merecem minha atenção. Declaro que é a esses hóspedes externos que devo todo o conhecimento que possuo. »

Emerson fala em seus termos do fenômeno da inspiração : « Os pensamentos não me vêm sucessivamente, como num problema matemático, mas penetram eles mesmos em meu intelecto, semelhantes a um relâmpago que brilha nas trevas da noite. A verdade me chega, não por raciocínio, mas por intuição. »

Encontramos em Goethe (Cartas a uma criança) os detalhes seguintes sobre Beethoven : « Beethoven, falando da fonte de onde vinha a concepção de suas obras, dizia a Bettina : « Me sinto forçado a deixar transbordar por todos os lados as ondas de harmonia provenientes do foco de inspiração. Tento seguí-las, as retomo apaixonadamente ; de novo, me escapam e desaparecem no meio da multidão de distrações que me envolvem. Logo recobro a inspiração com ardor ; arrebatado, multiplico todas as modulações, e, no momento derradeiro, triunfo do primeiro pensamento musical ; eis agora, é uma sinfonia... » Devo viver sozinho comigo mesmo. Sei bem que Deus e seus anjos estão mais perto de mim, de minha arte, que os outros. Comunico-me com eles sem temor. A música é a única entrada espiritual nas esferas superiores da inteligência. »

Mozart, por seu lado, em uma de suas cartas a um amigo íntimo, nos inicia nos mistérios da inspiração musical : « Vocês disseram que queriam saber qual é minha maneira de compor e que método eu sigo. Não posso verdadeiramente dizer mais do que se segue, porque eu mesmo não o sei bem e não consigo me explicar. Quando estou bem disposto e absolutamente só durante uma caminhada, os pensamentos musicais me vêm em abundância. Não sei de onde vêm esses pensamentos, nem como me chegam ; minha vontade não entra nisso para nada... »

No declínio de sua vida, enquanto o ombro da morte já se estendia sobre ele, em um momento de calma, de serenidade perfeita, ele chama um de seus amigos que se encontrava no seu quarto : « Ouça » , diz ele, « estou escutando a música. » Seu amigo lhe respondeu : « Não ouço nada. » Mas Mozart, arrebatado, continua a perceber as harmonias celestes e seu pálido semblante se ilumina. Depois ele cita a testemunha de Santa Joanna : « e escutei a música do céu » ; É então que ele compõe seu Requiem.
Para saber mais:

* O Espiritismo perante a Ciência de Gabriel Delanne (5ª parte, c. II, Os médiuns escreventes – mediunidade intuitiva)
* No Invisível Léon Denis (2ª parte, c. XIII, Clarividência. Pressentimentos.)
* O Problema do Ser e do Destino Léon Denis (c. XXI, A consciência, o senso íntimo, a partir da pág. 447)

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